Editorial
O amor
O amor, como comumente se
entende na Terra, é um sentimento, um impulso do ser, que o leva para outro ser
com um desejo de unir-se a ele. Mas, na realidade, o amor reveste formas
infinitas, desde as mais vulgares até as mais sublimes. Princípio da vida
universal, proporciona à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras a
intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em roda se si; é por ele que
ela se sente estreitamente ligada ao Poder Divino, foco ardente de toda a vida,
de todo o amor.
O amor é uma força
inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e
aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua
no mundo. Por ele atrai para si na matéria; eleva-os e arrasta-os na espiral da
ascensão infinita para os esplendores da luz e da liberdade.
O amor conjugal, o amor
materno, o amor filial ou fraterno, o amor da pátria, da raça, da humanidade,
são refrações, raios refratários do amor divino, que abrange todos os seres, e,
difundindo-se neles, faz rebanhar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas
florescências de amor.
O amor é mais forte do que
o ódio, mais poderoso do que a morte. Se o Cristo foi o maior dos missionários
e dos profetas, se tanto império teve sobre os homens, foi porque trazia em si
um reflexo mais poderoso do Amor Divino. Jesus passou pouco tempo na Terra;
foram bastantes três anos de evangelização para que o seu domínio se entendesse
a todas as nações. Não foi pela Ciência nem pela arte oratória que ele seduziu
e cativou as multidões, foi pelo amor! [...] Por isso, apesar dos erros e
falsas fogueiras acesas, de tantos véus estendidos sobre seu ensino, o Cristianismo
continuou a ser a maior das religiões; disciplinou, moldou a alma humana, amansou
a índole feroz dos bárbaros, arrancou raças inteiras à sensualidade ou à
bestialidade.
Por isso também se
explicam e se afirmam a solidariedade e fraternidade universais. Um dia, quando
a verdadeira noção do ser se desembaraçar das dúvidas e incertezas que obsidiam
o pensamento humano, compreender-se-á a grande fraternidade que liga as almas.
Sentir-se-á que são todas envolvidas pelo magnetismo divino, pelo grande sopro
de amor que enche os Espaços.
A todas as interrogações
do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas blasfêmias, uma voz grande,
poderosa e misteriosa responde: Aprenda a amar! O amor é o resumo de tudo, o
fim de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar sobre o
universo a imensa rede de amor tecida de luz e ouro. Amar é o segredo da
felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas
as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida,
do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais refratários.
Quem pois, num dia de
verão, quando o sol se irradia, quando a imensa cúpula azulada se desenrola
sobre nossas cabeças e dos pratos e bosques, dos montes e do mar sobem a
adoração, a prece muda dos seres e das coisas, quem, pois, deixará de sentir as
radiações de amor que enchem o infinito?
É preciso nunca ter aberto
a alma a estas influências sutis para ignorá-las ou negá-las. Muitas almas terrestres
ficam, é verdade, hermeticamente fechadas para as coisas divididas ou, então,
se sentem suas harmonias e belezas, escondem cuidadosamente o segredo de si
mesmas; parecem ter vergonha de confessar o que conhecem ou o que de maior e
melhor experimentam.
Tentai a experiencia! Abri
o vosso ser interno, abri as janelas da prisão da alma aos eflúvios da vida
universal e, de súbito, essa prisão encher-se-á de claridades, de melodias; um
mundo todo de luz penetrará em vós.
Basta ter experimentado
uma vez só essas impressões para não as esquecer mais. E quando chega o
declínio da vida com suas desilusões, quando as sombras crepusculares se
acumulam sobre nós, então estas poderosas sensações acordam com a memória de
todas as alegrias sentidas, e a lembrança das horas em que verdadeiramente
amamos cai como delicioso orvalho sobre nossas almas dissecadas pelo vento
áspero das provações e das dores.
(Do Livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor,
de Leon Denis)
Reflexões evangélicas
Buscai, acima de tudo, o reino de Deus e a
sua justiça e todas essas coisas ser-vos-ão acrescentadas. (Mateus, 6:33)
Recuando
ao tempo de sua palavra direta, recordemos que a multidão perguntava sobre o comer,
o beber e o agasalhar-se... Essas coisas, porém, cresceram com a
civilização.
Não apenas pão do corpo,
mas pão de espírito em forma de educação e paz. Não apenas beber água, na ordem
material, mas sorver o idealismo santificante de que o Mestre mesmo foi o
excelso portador. Não apenas agasalhar-se com as vestes que cobrem o corpo
denso, mas o abrigar-se cada um de nós na alegria da consciência reta, para que
o coração unido ao Cristo respire na inexpugnável cidadela do dever respeitado.
A significação dessa trilogia de verbos tão rotineiros no mundo é, hoje, como
vemos, mais complexa. Precisamos dessas coisas...
Essas coisas, que também podemos
simbolizar como harmonia interior, tranquilidade doméstica, equilíbrio na vida
pública e privada, compreensão para com os amigos, tolerância para com os
adversários, dignidade nas provações e força para ultrapassar as nossas
próprias fraquezas, são necessidades prementes que não podemos olvidar. Mas
para que essas coisas sejam acrescentadas à nossa vida, é indispensável
procuremos o reino de Deus e sua justiça, que expressam felicidade com
merecimento. Façamos o melhor, sentindo, pensando e falando o melhor que
pudermos.
Honrando o reino de Deus e
sua justiça, o nosso divino Mestre passou na Terra em permanente doação de si
mesmo... Eis o padrão que nos deve inspirar as atividades, porque não nos
bastará crer acertadamente e ensinar com brilho, mas, acima de tudo, viver as
lições.
O reino de Deus inclui
todos os bens materiais e morais, capazes de serem incorporados aos nossos
espíritos, seja onde for; no entanto, importa merecê-lo por justiça e não
apenas desejá-lo pela fé. Amigos, temos agora conosco o programa certo.
Atendamo-lo. E que o Senhor nos reúna em valioso entendimento, para a obra de
cooperação no Evangelho que nos cabe executar, é tudo aquilo que aspiramos de
melhor para que o serviço do bem nos conduza ao grande Bem que nos acena o
futuro.
(Instruções psicofônicas de Chico Xavier/ Álvaro
Reis (parte))
Um olhar amoroso sobre o mal do outro
O olhar moral enviesado
sobre o mundo pode nos afastar da visão de totalidade e da percepção do
significado espiritual pleno da vida. Tanto quanto o viés permissivo sobre o
mundo, assim como o olhar pesado e pecaminoso que se tenha, contribuem para o
atraso moral do planeta. Nem sempre nosso estado de espírito permite-nos a
percepção desejada quando observamos as atitudes humanas. [...] Devemos lembrar
que o ser humano é individual e coletivo ao mesmo tempo, isto é, ele age por
seu livre arbítrio e motivação própria, mas também pelas influências que
recebe, sejam de seu meio ambiente ou pelas interferências espirituais. Suas
ações não decorrem apenas do momento atual, tampouco apenas de seu passado reencarnatórios.
[...] Nesse sentido, o Evangelho utilizado apenas com essa finalidade, isto é,
de referendar um enquadramento do que é bem e do que é mal, estaria sendo
utilizado com uma finalidade muito aquém de suas possibilidades
transformadoras. A claridade de sua essência estaria sendo de alguma forma
depreciada. [...]
Aqueles que se constituem em intérpretes das
claridades do Evangelho devem buscar evitar se transformarem em profetas do
apocalipse para que não lhe embace a luminosidade que deve conduzir o ser
humano à felicidade. As advertências são válidas e preciosas, visto que alertam
aos menos avisados quanto às consequências de seus equívocos, porém são
igualmente necessárias propostas de aplicabilidade na vida material e em suas
rotinas para que não se preguem atitudes exequíveis apenas num mundo imaginário
ou que se situe no além. [...]
A profilaxia dos
desequilíbrios humanos ou daquilo que o torna infeliz e que gera a ausência de
paz, inicia-se na medida que ele desperta para se questionar. Propor medidas
comportamentais para resolver aqueles desequilíbrios é como pular ou saltar um
degrau importante da escada natural de crescimento espiritual do ser humano.
Que se curem os males, mas que se questione a si mesmo. [...]
A personalidade de quem
veicula a mensagem do Evangelho sem sombra de dúvidas interfere na forma como
esta é veiculada e na interpretação que se lhe dá. Por mais que a pessoa se
esforce em apresentar, através do exemplo pessoal, uma visão pura e límpida, a
interpretação sempre conterá algo de particular. [...]
O Cristo propõe que o curador se cure, isto é,
que sua fala seja também, e principalmente, dirigida a si mesmo. Seu exemplo
pessoal é a verdadeira mensagem que passa, tendo como base o que assimilou da
original. A partir do que entendeu da mensagem que lhe inspira a vida, levará
aos outros, de uma forma típica, aplicável aparentemente a todos, mas própria
para aqueles que têm carma semelhante ao seu.
Numa família seus membros
devem buscar aplicar o que pregam e aquilo que acreditam. Quando não se sintam
em condições de fazê-lo devem pedir ajuda aos outros membros a fim de que todos
compartilhem de problemas que pertencem a todos. Omitir os problemas àqueles que
podem ajudar é demonstração de insegurança. Em alguns casos é compreensível que
certos problemas possam ser omitidos a fim de não expor terceiros, porém
deve-se buscar a participação de todo o grupo na solução e discussão de
problemas comuns, inclusive das crianças, para que comecem logo cedo a entender
a vida.
A fala do Cristo demonstra
segurança e autoconfiança em si mesmo. Ele se expôs diante da Sinagoga sem
esconder suas capacidades e disse para que veio. Nós devemos colocar em família
o que ali estamos fazendo. Devemos ter equilíbrio e autodeterminação
suficientes para assumir nossas responsabilidades em família.
(Do livro Evangelho e Família de Adenáuer Novaes)
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