Editorial
A prece deve ser uma expansão íntima da alma para
com Deus, um colóquio solitário, uma meditação sempre útil, muitas vezes
fecunda. É, por excelência, o refúgio dos aflitos, dos corações magoados. Nas
horas de acabrunhamento, de pesar íntimo e de desespero, quem não achou na
prece a calma, o reconforto e o alívio a seus males? Um diálogo misterioso se
estabelece entre a alma sofredora e a potência evocada. A alma expõe suas
angústias, seus desânimos; implora socorro, apoio, Indulgência. E, então, no
santuário da consciência, uma voz secreta responde: é a voz d’Aquele donde
dimana toda a força para as lutas deste mundo, todo o bálsamo para as nossas
feridas, toda a luz para as nossas incertezas. E essa voz consola, reanima,
persuade; traz-nos a coragem, a submissão, a resignação estoica. E, então,
erguemo-nos menos tristes, menos atormentados; um raio de sol divino luziu em
nossa alma, fez despontar nela a esperança.
[...] A linguagem da prece deve variar segundo as
necessidades, segundo o estado do Espírito humano. É um grito, um lamento, uma
efusão, um cântico de amor, um manifesto de adoração, ou um exame de seus atos,
um Inventário moral que se faz sob a vista de Deus, ou ainda um simples
pensamento, uma lembrança, um olhar erguido para o céu.
Seria um erro julgar que tudo podemos obter pela
prece, que sua eficácia implique em desviar as provações inerentes à vida. A
lei de imutável justiça não se curva aos nossos caprichos. Os males que
desejaríamos afastar de nós são, muitas vezes, a condição necessária do nosso
progresso. Se fossem suprimidos, o efeito disso seria tornar estéril a nossa
vida. De outro modo, como poderia Deus atender a todos os desejos que os homens
exprimem nas suas preces? A maior parte destes seria incapaz de discernir o que
convém, o que é proveitoso. Alguns pedem a fortuna, ignorando que esta, dando
um vasto campo às suas paixões, seria uma desgraça para eles.
[...] A prece do sábio, feita com recolhimento
profundo, isolada de toda preocupação egoísta, desperta essa Intuição do dever,
esse superior sentimento do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através
das dificuldades da existência e o mantêm em comunicação íntima com a grande
harmonia universal.
Unamos nossas vozes às do infinito. Tudo ora, tudo
celebra a alegria de viver, desde o átomo que se agita na Lua até o astro
Imenso que flutua no éter. A adoração dos seres forma um concerto prodigioso
que se expande no espaço e sobe a Deus. É a saudação dos filhos ao Pai, é a
homenagem prestada pelas criaturas ao Criador. Interrogai a Natureza no
esplendor dos dias de sol, na calma das noites estreladas. Escutai as grandes
vozes dos oceanos, os murmúrios que se elevam do seio dos desertos e da
profundeza dos bosques, os acentos misteriosos que se desprendem da folhagem,
repercutem nos desfiladeiros solitários, sobem as planícies, os vales,
franqueiam as alturas e espalham-se pelo Universo. Por toda parte, em todos os
lugares, concentrando-vos, ouvireis o cântico admirável que a Terra dirige à
Grande Alma. Mais solene ainda é a prece dos mundos, o canto suave e profundo
que faz vibrar a Imensidade e cuja significação sublime somente os Espíritos
elevados podem compreender.
(Leon Denis, no livro Depois da Morte, Item A
prece)
No Sustento da Paz
"Vivei em Paz uns com
os outros". -Paulo (I Tessalonicenses, 5:13.)
Costumamos referir-nos à guerra, qual se ela fosse
um fenômeno de teratologia política, exclusivamente atribuível aos desmandos de
ditadores cruéis, quando todos somos intimados pela vida ao sustento da Paz.
Todos agimos uns sobre os outros e, ainda que a nossa
influência pessoal se nos figure insignificante, ela não é menos viva na
preservação da harmonia geral. A floresta é um espetáculo imponente da
natureza, mas não se agigantou sem o concurso de sementes pequeninas.
Nossa deficiência de análise, quanto à
contribuição individual no equilíbrio comum, nasce, via de regra, da aflição
doentia com que aguardamos ansiosamente os resultados de nossas ações,
sequiosos de destaque pessoal no imediatismo da Terra; isso faz com que
procedamos, à maneira de alguém que se decidisse a levantar uma casa com total
menosprezo pelas pedras, tijolos, parafusos e vigas, aparentemente sem
importância, quando isoladamente considerados, mas indispensáveis à construção.
Habituamo-nos, frequentemente, a maldizer o irmão
que se fez delinquente, com absoluta descaridade para com a debilitação de
caráter a que chegou, depois de longo processo obsessivo que lhe corroeu a
resistência moral, quase sempre após fugirmos da providência fraterna ou da
simples conversação esclarecedora, capazes de induzi-lo à vitória sobre as
tentações que o levaram à falta consumada.
Lideramos reclamações contra o estridor de buzinas
na via pública e não nos pejamos das maneiras violentas com que abalamos os
nervos de quem nos ouve.
Todos somos chamados à edificação da Paz que,
aliás, prescinde de qualquer impulso vinculado às atividades de guerra e que,
paradoxalmente, depende de nossa luta por melhorar-nos e educar-nos, de vez que
Paz não é inércia e sim esforço, devotamento, trabalho e vigilância incessantes
a serviço do bem. Nenhum de nós está dispensado de auxiliar lhe a defesa e a
sustentação, porquanto, muitas vezes, a tranquilidade coletiva jaz suspensa de
um minuto de tolerância, de um gesto, de uma frase, de um olhar... Não te
digas, pois, inabilitado a contribuir na Paz do mundo.
Se não admites o poder e o valor dos recursos
chamados menores no engrandecimento da vida, faze um palácio diante de vigorosa
central elétrica e procura dotá-lo de luz e força sem a tomada.
(Mensagem de Emmanuel, no livro Palavras de vida
eterna de Francisco Cândido Xavier)
Revolta
“192. a) — Pode ao menos o
homem na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura
menos prenhe de amarguras”?
“Sem dúvida. Pode reduzir
a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso permanece sempre no
mesmo ponto.” O Livro dos Espíritos
Indiscutivelmente, defrontas a revolta em toda a
Terra, carregando uma máscara de mil faces com que se apresenta, dominadora.
Revolta da pobreza que não se pode adornar de ouro
frio nas competições infrenes do luxo...
Revolta da fortuna porque não pode conquistar o
mundo, cavalgando as consciências honradas...
Revolta da vaidade que não logra sobrepor-se
àdignidade alheia...
Revolta de quem não pode disseminar a perversão
moral...
Revolta daqueles que não souberam preservar a
saúde...
Revolta de quantos tombaram nos testemunhos
àvirtude, resvalando nos lamaçais do vício...
Revolta da ignorância por não envenenar a cultura
que lhe desvela a cegueira...
Revolta do mal por não dispor de recursos para
instaurar a anarquia no mundo...
Revolta da ambição dos que muito possuem e não
estão satisfeitos, fazendo-se, eles mesmos, escravos do que ainda não têm, e
revolta da ambição dos que nada têm, atormentando-se, eles próprios, na
grilheta da posse que ainda não lhes chegou às mãos, olvidando, todos eles, o
aproveitamento dos bens disponíveis para a disseminação da alegria e da
felicidade nos corações...
Revolta dos que não têm fé, atirando-se nos
cipoais do desespero, longe da disposição de aprimoramento da alma, e revolta
dos que receberam o chamado da fé, mas não foram poupados aos necessários
resgates das velhas dívidas, comprometendo-se, ainda mais, nos espinheiros da
reclamação injusta, em flagrante desrespeito às sábias Leis que regem a vida...
Há, porém, uma revolta mais lamentável: aquela que
surge na inconformação do homem esclarecido pela consoladora Doutrina de Cristo
e que se embrutece na violência do prazer ultrajante, porque não consegue
imprimir aos caprichos soezes um cunho superior, esmagando na posse quantos se
negam a compactuar-lhe as fraquezas e indignidades, esquecido de que o caminho
da paz é pavimentado de renúncia e humildade, embora a aflição que corrói e
gasta.
Liberta-te da revolta de qualquer espécie e busca
examinar, através do amor total, os recursos ao teu alcance, desdobrando
esforços para a utilização justa do tempo e da dor, convertido em experiência
primorosa, em favor da tua integração nas tarefas a que te propões, a benefício
de ti mesmo, porque “só o descuidoso permanece sempre no mesmo ponto”.
(Joanna de Ângelis, no livro Espírito e Vida de
Divaldo Pereira Franco)
Nenhum comentário:
Postar um comentário