Editorial
Ante o divino semeador
“Ouvi: eis que saiu o semeador a semear...”
– Jesus (Marcos 4:3)
Jesus é o semeador da
terra e a humanidade é a lavoura de Deus em Suas Mãos. Lembremo-nos da renúncia
exigida à semente chamada à produção que se destina ao celeiro para que não
venhamos a sucumbir em nossas próprias tarefas.
Atirada ao ninho escuro da
gleba em que lhe cabe desabrochar, sofre extremo abandono, sufocada ao peso do
chão que lhe esmaga o envoltório. Sozinha e oprimida, desenfaixa-se das forças
inferiores que a constringem a fim de que os seus princípios germinativos
consigam receber a bênção do céu.
Contudo, mal se desenvolve,
habitualmente padece o assalto de vermes que lhe maculam o seio, quando não
experimenta a avalancha de lama, por força dos temporais.
Ainda assim, obscura e
modesta, a planta nascida crê institivamente na sabedoria da natureza que lhe
plasmou a existência e cresce para o brilho solar, vestindo-se de frondes tenras
e florindo em melodias de perfume e beleza para frutificar, mais tarde, nos
recursos que sustentam a vida.
À frente do semeador
sublime, não esmoreças ante os pesares da incompreensão e do isolamento, das tentações
e das provas aflitivas e rudes.
Crê no Poder Divino que te
criou para a imortalidade e, no silêncio do trabalho incessante no bem a que
foste trazido, ergue-te para a Luz Soberana, na certeza de que, através da
integração com o amor que nos rege os destinos, chegarás, sob a generosa
proteção do Celeste Pomicultor, à frutificação da verdadeira felicidade.
(Mensagem de Emmanuel, do livro Antologia
Mediúnica do Natal de Francisco Cândido Xavier)
Maneira de orar
O dever primordial de toda
criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de
cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem
orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às
outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como
qualquer dever?
A prece do cristão, do
espírita, seja qual for o seu culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja
retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da Majestade Divina com
humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios
recebidos até àquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi
permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os
seus guias, para haurir, no contacto com eles, mais força e perseverança. Deve
ela subir humilde aos pés do Senhor, para lhe recomendar a vossa fraqueza, para
lhe suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Deve ser profunda, porquanto é
a vossa alma que tem de elevar-se para o Criador, de transfigurar-se, como
Jesus no Tabor, a fim de lá chegar nívea e radiosa de esperança e de amor.
A vossa prece deve conter
o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade.
Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê
alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da
paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: "Não
vale a pena orar, porquanto Deus não me atende." Que é o que, na maioria
dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria
moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos
lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e
haveis com frequência exclamado: "Deus não se ocupa conosco; se se
ocupasse, não se verificariam tantas injustiças." Insensatos! Ingratos! Se
descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós
mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes
de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de
consolações se derramará sobre vós.
Deveis orar
incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso
oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o
cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a
natureza deles. Não é ato de amor a Deus assistirdes os vossos irmãos numa
necessidade, moral ou física? Não é ato de reconhecimento o elevardes a ele o
vosso pensamento, quando uma felicidade vos advém, quando evitais um acidente,
quando mesmo uma simples contrariedade apenas vos roça a alma, desde que vos
não esqueçais de exclamar: Sede bendito, meu Pai?! Não é ato de contrição o vos
humilhardes diante do supremo Juiz, quando sentis que falistes, ainda que somente
por um pensamento fugaz, para lhe dizerdes: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei
(por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não
falir de novo e coragem para a reparação da minha falta?! Isso independe das
preces regulares da manhã e da noite e dos dias consagrados.
Como o vedes, a prece pode
ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos
trabalhos. Dita assim, ela, ao contrário, os santifica. Tende como certo que um
só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo vosso Pai
celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa
determinante e às quais apenas maquinalmente vos chama a hora convencional.
(Texto do Ítem 22, Cap. XXVIII do Evangelho
Segundo o Espíritismo)
Página aos Pais
Por maiores sejam os compromissos que te prendam a obrigações dilatadas,
na esfera dos negócios ou na vida social, consagrarás à família as atenções
necessárias.
Lembrar-te-ás de que o lar é tão
somente o refúgio que o arquiteto te planeou, baseando estudos e cálculos nos
recursos do solo.
Encontrarás nele o templo de corações
em que as Leis de Deus te situam transitoriamente o Espírito, a fim de que
aprendas as ciências da alma no intervalo doméstico.
“Honrarás teu pai e tua mãe...”
proclama a Escritura e daí se subentende que precisamos também dignificar
nossos filhos.
Ainda mesmo se eles, depois de
adultos, não nos puderem compreender, nada impede venhamos a entendê-los e
auxiliá-los, tanto quanto nos seja possível, sem que por isso necessitemos coarctar
os planos superiores de serviço que nos alimentou o coração.
Reconhecendo o débito irresgatável
para com teus pais, os benfeitores que te entreteceram no mundo a felicidade do
berço, darás aos teus filhos, com a luz do exemplo no dever cumprido, a devida
oportunidade para a troca de impressões e de experiências.
Se ainda não consegues ofertar-lhes o
culto do Evangelho em casa, asserenando-lhes as perguntas e ansiedades, com os
ensinamentos do Cristo, não te esqueças do encontro sistemático em família,
pelo menos semanalmente, a fim de atender-lhes as necessidades da alma.
Detém-te a registrar-lhes as
indagações infanto-juvenis, louva-lhes os projetos edificantes e estimula-lhes
o ânimo à prática do bem.
Não abandones teus filhos à onda
perigosa das paixões insofreadas, sob o pretexto de garantir-lhes personalidade
e emancipação.
Ajuda-os e habilita-os espiritualmente
para a vida de hoje e de amanhã.
Sobretudo, não adies o momento de
falar-lhes e ouvi-los, pois a hora da tormenta de provações na viagem da Terra,
se abate, mais dia menos dia, sobre a fonte de cada um, por teste de
resistência moral, na obra de melhoria, resgate e aprimoramento que nos achamos
empenhados.
Persevera no aviso e na instrução, no
carinho e na advertência, enquanto o ensejo te favorece, porquanto muito
dificilmente conseguimos escutar-nos uns
aos outros por ocasião de tumulto ou tempestade, e ainda porque ensinar
equilíbrio, quando o desequilíbrio já se instalou, significa, na maioria das
vezes, trabalho fora de tempo ou auxílio tarde demais.
(Mensagem
de Emmanuel, do Livro Família de Francisco Cândido Xavier)
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