domingo, 31 de março de 2019

Ano III - Rio das Ostras - Edição Abril 2019


Editorial

Em meio a tantas notícias dos últimos tempos, que nos dão a sensação de que o mundo está casa vez pior ou que a humanidade se perdeu, é preciso saber que estamos apenas vendo o que dá audiência na mídia, por despertar no publico a curiosidade e os instintos ainda primitivos que existem em muitos de nós.
Entretanto, é preciso que se faça, de nossa parte, um esforço em buscar nos cercarmos de boas vibrações, bons conteúdos literários, debates e conversações saudáveis  que nos levem a reflexões de teor elevado e nos abra os olhos aos acontecimentos que realmente exemplifiquem a evolução constante rumo a um futuro mais próximo dos propósitos contidos nas mensagens deixadas por Jesus Cristo à humanidade.
Neste ano de 2019, tivemos boas notícias que evidenciam que a providência divina não cessa, uma delas é o lançamento de O Livro dos Espíritos em chinês. Um projeto que foi iniciado em 2002, pelo brasileiro Emanuel Dutra, com vista à crescente propagação do cristianismo no oriente, o que abre caminho para que as obras de Allan Kardec venham auxiliar na melhor compreensão do evangelho, com uma visão mais abrangente sobre a espiritualidade. O que se adequa mais intimamente às tradições religiosas dos chineses.
Também destacamos o físico e astrônomo Marcelo Gleiser que foi contemplado com o Premio Templeton 2019, que já foi dado a personalidades como Madre Teresa de Calcutá em 1973 e Dalai Lama em 2012.
A Fundação John Templeton, que tem por lema “Quão pouco sabemos e quão ansiosos para aprender”, tem o objetivo de premiar contribuições excepcionais no campo da pesquisa, para afirmar a dimensão espiritual da vida, através de descobertas, constatações e trabalhos práticos.
Segundo o presidente da fundação, Marcelo Gleiser – atualmente lecionando no Dartmouth College em New Hampshire – é um dos principais proponentes da visão que ciência, filosofia e espiritualidade são expressões complementares que a humanidade precisa para abraçar o mistério e explorar o desconhecido.
Além destas boas notícias, não podemos esquecer das muitas boas ações, individuais ou coletivas, visando a preservação ambiental, trabalhos humanitários, demonstrações de amor e cuidado com o próximo e com o planeta, que reforçam a afirmação de que o bem está presente em toda parte. Sendo assim, como adeptos da doutrina espírita, temos muito a comemorar e cabe a nós, darmos a nossa contribuição para que se cumpra, cada dia mais, o mandamento universal do Cristo: Amar o seu próximo com a si mesmo.
(Texto composto de notícias da atualidade – Renata Domingues)






A Virtude

Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial. (Mateus, 5:44, 46 a 48.)

A virtude não é veste de gala para ser envergada em dias e horas solenes. Ela deve ser nosso traje habitual. A virtude precisa fazer parte de nossa vida, como o alimento que ingerimos cotidianamente, como o ar que respiramos a todo instante. A virtude não é para ostentação: é para uso comum. É falsa a virtude que aparece para os de fora, e não se verifica para os familiares. Quem não é virtuoso dentro do seu lar, não o será na vida pública, embora assim aparente. Ser delicado e afável na sociedade, deixando de manter esses predicados em família, não é ser virtuoso, mas hipócrita. A virtude não tem duas faces, uma interna, outra externa: ela é integral, é perfeita sob todos os aspectos e prismas. Não há virtude privada e virtude pública: a virtude é uma e a mesma, em toda parte. O hábito da virtude, quando real, reflete-se em todos os nossos atos, do mais simples ao mais complexo, como o sangue que circula por todo o corpo. As conjunturas difíceis, as emergências perigosas, não alteram a virtude quando ela já constitui nosso modo habitual de vida. A virtude assume as modalidades necessárias para se opor a todos os males, sem prejuízo de sua integridade. Há um matiz para resolver cada caso, para se opor a cada vício, para vencer cada paixão, para enfrentar cada incidente; mas sempre, no fundo, é a mesma virtude. Ela é como a luz, que, iluminando, resolve de vez todos os obstáculos e tropeços, franqueando-nos o caminho. O hábito da virtude é fruto de uma porfiada conquista. Possuí-la é suave e doce. Praticá-la é fonte perene de infindos prazeres. A dificuldade não está no exercício da virtude, mas na oposição que lhe faz o vício, que com ela contrasta. É necessário destronar um elemento, para que o outro impere. O vício não cede o lugar sem luta. A virtude nos diz: eis-me aqui, recebeime, dai-me guarida em vosso coração; mas lembrai-vos de que, entre mim e o vício, existe absoluta incompatibilidade. Não podeis servir a dois senhores. A verdadeira religião é a da virtude. Fora da virtude não há salvação. "Vós sois o sal da Terra", disse Jesus aos seus discípulos. Se ele hoje viesse ao mundo reunir seus escolhidos, não se valeria certamente das denominações e títulos dos vários credos religiosos para os distinguir; a virtude seria o sinal inconfundível por onde os descobriria, por mais dispersos e disfarçados que estivessem. É pela virtude que as almas se irmanam entretecendo entre si liames indissolúveis. Os homens de virtude entendem-se num momento, ao passo que os séculos não são suficientes para firmar acordo entre aqueles que dela vivem divorciados. Propaguemos a religião da virtude: só ela satisfaz o senso da vida, conduzindo o espirito à realização dos seus destinos.
(Mensagem de Vinicius no Livro Nas pegadas do Mestre)





O Educandário Familiar

A família é o resultado do largo processo evolutivo do espírito na extensa trajetória vencida por meio das sucessivas reencarnações. Resultado do instinto gregário que une todos os animais, aves, répteis e peixes em grupos que se auxiliam e se interdependem reciprocamente, no ser humano atinge um estágio relevante e de alta significação, em face da conquista do raciocínio, da consciência. Dessa forma, a família é o alicerce sobre o qual a sociedade se edifica, sendo o primeiro educandário do espírito, onde são aprimoradas as faculdades que desatam os recursos que lhe dormem latentes.
A família é a escola de bênçãos onde se aprendem os deveres fundamentais para uma vida feliz e sem cujo apoio fenecem os ideais, desfalecem as aspirações, emurchecem as resistências morais. Quando o individuo opta pela solidão, exceção feita aos grandes místicos e pesquisadores da ciência, filósofos e artistas que abraçam os objetivos superiores como a sua família, termina sendo portador de transtorno da conduta e da emoção.
[...] Não poucas vezes, no grupo doméstico ressumam as reminiscências perturbadoras do Além ou de outras existências, que devem ser trabalhadas pelo cinzel da misericórdia, da tolerância e da compaixão, a fim de que sejam arquivadas como diferentes emoções enobrecidas, que irão contribuir em favor do progresso de todos. De inspiração divina, a família é a oportunidade superior do entendimento e da vera fraternidade, de onde surgirá o grupo maior, equilibrado e rico de valores, que é a sociedade. Por isso, no momento em que a família se desestrutura sob os camartelos da impiedade e da agressão, ou se dilui em face da ilusão acalentada pelos seus membros, ou se desmorona em razão da imprevidência, a sociedade sofre um grande constrangimento.
[...] Mesmo quando não correspondendo às expectativas pessoais, em face do reencontro com adversários ou caracteres inamistosos, no lar adquire-se a necessária filosofia existencial para conduzir-se com equilíbrio durante toda a existência. O exercício da paciência no clã familiar é valiosa contribuição para a experiência iluminativa, porquanto, se aqueles com os quais se convive tornam-se difíceis de ser amados, gerando impedimentos emocionais que se sucedem continuamente, como poder-se vivenciar o amor em relação a pessoas com as quais não se tem relacionamento, senão por paixão ou sentimentos de interesse imediatista?
[...] Aquele que hoje se apresenta agressivo e cínico no grupo doméstico, dando lugar a guerrilhas perversas, encontra-se doente da alma, merecendo orientação e exigindo mais paciência. Ninguém se torna infeliz por mero prazer, mas em consequência de muitos fatores que lhe são desconhecidos. [...] No entanto, na família, em razão dos sentimentos, das individualidades, das experiências transatas, o fenômeno é muito diferente, oscilando o equilíbrio conforme o desenvolvimento ético-moral de cada qual, que se apresenta conforme é e não consoante gostaria de ser. [...] Quem não consegue a capacidade de amar aqueles com os quais convive, mais dificilmente poderá amar aqueloutros que não conhece. O combustível do amor se inflama com maior potencialidade quando oxigenado pela convivência emocional.
Noutras condições, trata-se apenas de atração física passageira, de libido exagerada que logo cede lugar ao desencanto, ao tédio, ao desinteresse... A família, portanto, é um núcleo de aformoseamento espiritual, que enseja aprendizagem de relacionamentos futuros exitosos. No grupo animal, quando os filhos adquirem a capacidade de conseguir o alimento, os pais abandonam-nos, quando isso excepcionalmente em algumas espécies não ocorre antes. No círculo humano da família é diferente: os laços entre pais e filhos jamais se rompem, mesmo quando há dificuldades no relacionamento atual, o que exige transferência para outras oportunidades no futuro reencarnacionista, que se repetem até a aquisição do equilíbrio afetivo. É da Divina Lei que somente através do amor o espírito encontra a. plenitude, e a família é o local onde se aprimora esse sentimento, que se desdobra em diversas expressões de ternura, de abnegação, de afetividade... Com o treinamento doméstico o espírito adquire a capacidade de amar com mais amplitude, alcançando a sociedade, que se lhe transforma em família universal.
(Texto de Joana di Angelis no livro Constelação Familiar de Divaldo P. Franco)