Editorial
Ensino espírita
Reunião pública de 11/1/60
Questão nº 3
Se abraçaste na Doutrina Espírita o roteiro da
própria renovação, em toda parte és naturalmente chamado a fixar-lhe os
ensinos.
Administrador, não te limitarás ao controle de
patrimônios físicos, porque saberás aplicá-los no bem de todos.
Legislador, não te guardarás na galeria dos
privilégios, porque humanizarás os estatutos do povo.
Juiz, não te enquistarás na autoridade de convenção,
porque serás em ti mesmo a garantia do Direito correto.
Médico, não estarás circunscrito ao órgão enfermo,
porque auscultarás, igualmente, a alma que sofre.
Professor, não terás nos discípulos meros
associados no estudo dos números e das letras, mas verdadeiros filhos do
coração.
Negociante, não farás do comércio a feira dos
interesses inferiores, mas a escola da fraternidade e do auxílio.
Operário, não furtarás o tempo, no exercício da
rebeldia, mas vigiarás, satisfeito, o desempenho das próprias obrigações.
Lavrador, não serás sanguessuga insaciável da
terra, mas recolher-lhe-ás os produtos, ajudando-a, nobremente, a reverdecer e
florir.
Seja qual for a profissão em que te situes, vives
convidado a enobrecê-la com o selo de tua fé, moldada nos valores humanos, porquanto,
na responsabilidade espírita, toda ação no bem precisa ultrapassar o dever para
que o ato de servir se converta em amor.
Hoje e agora, onde estivermos, segundo os nossos
princípios, somos constantemente induzidos a lecionar disciplinas de
entendimento e conduta.
Aqui é a solidariedade, ali é a fidelidade aos
compromissos, adiante é a compreensão, mais além, é a renúncia...
Aqui é o devotamento ao trabalho, ali é a
paciência, adiante é o perdão incondicional, mais além é o espírito de sacrifício...
Doutrina Espírita, na essência, é universidade de
redenção.
E cada um de seus profitentes ou alunos, por força
da obrigação no burilamento interior, é obrigado a educar-se para educar.
É por isso que, se lhe esposaste as tarefas, seja
esse ou aquele o setor de tuas atividades, estarás, cada dia, ensinando o
caminho da elevação, na cadeira do exemplo.
(Emmanuel no livro Seara dos Médiuns de Francisco
Cândido Xavier )
Á luz do Espiritismo
...
O problema
da alma e a vida futura têm hoje a mesma atualidade que em épocas mui recuadas.
O homem das viagens espaciais e das pesquisas
submarinas, à semelhança dos guerreiros, pensadores e investigadores da
antiguidade, encontra-se perturbado e inseguro quanto às realidades do Espírito
imortal, atravessando os pórticos da morte com a mente atônita e o coração
vencido, preso às linhas vigorosas da retaguarda, na Terra.
[...]
Depois do advento do Espiritismo, que projeta nova
luz em torno dos fundamentos da vida, o homem pôde libertar-se das aflições,
entre as quais o temor da morte, e assim "encarar sob o seu verdadeiro
ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual,
fazendo dele uma ideia tão exata quanto possível, o que denota da parte do
Espírito encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se
da matéria."
Considerando as nobres conquistas hodiernas, cuja
colaboração ao progresso humano são incontestáveis, diversas escolas do
Cristianismo ainda se demoram aferradas, lamentavelmente, aos velhos dogmas
sobre o Céu e o Inferno, inferindo da letra bíblica, em que se dizem apoiar,
ensinos absurdos, positivamente contrários à Boa Nova, cuja Mensagem deve
sempre ser examinada em "espírito e verdade."
" Uma só existência corporal - assinala o
iluminado Codificador do Espiritismo - é manifestamente insuficiente para o
Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. ...
"Cada existência é assim um passo avante no
caminho do progresso. ...
"No intervalo das existências corporais o
Espírito torna a entrar no mundo espiritual, onde é feliz ou desgraçado segundo
o bem ou o mal que fez. ...
[...]
"Seja qual for a duração do castigo na vida
espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo,
próximo ou remoto"...
...E os Espíritos, que "são as vozes do
Céu", confirmam as conclusões do lídimo instrumento elegido pelo Senhor
para favorecer a Humanidade com roteiros seguros no rumo inevitável da
Imortalidade.
[...]
A luz do Espiritismo dirime-se equívocos,
equacionam-se problemas, corrigem-se enganos, aclaram-se conceitos,
modificam-se opiniões, surgem roteiros novos, estabelecem-se diretrizes
seguras, valorizam-se labores e tarefas, clareiam-se consciências, modificam-se
os painéis da vida, e a morte se transforma em abençoado veículo para a
Imortalidade, porque o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus,
conduzindo os homens aos paramos da Verdade.
[...]
Por essa razão, ao ensejo dos movimentos de
Evangelização Infantil, de Juventudes e Mocidades Espíritas - abençoadas
florações da esperança para o futuro com Jesus Cristo - que surgem como
antemanhãs da Era Nova, conclamamos infantes, moços e velhos ao estudo e à
prática do Espiritismo, do que decorrem a felicidade e a paz para o Espírito
humano em refregas justas e necessárias à própria libertação.
Compenetrando-nos, desse modo, todos nós, dos dois
planos da vida, das verdades que brilham nas facetas luminosas do diamante sem
jaça do Espiritismo, sigamos confiantes, cobrindo as pegadas de Jesus pelos
libertadores caminhos do esclarecimento, da caridade e do amor.
(Joanna de Ângelis no livro À luz do espiritismo
de Divaldo P. Franco)
O conhecimento é a base da própria vida.
A sabedoria abre caminhos novos para que possamos
sentir e mesmo desfrutar da felicidade. Não poderá existir civilização sem que
a inteligência ocupe algum lugar na pauta dos confortos. Não pode existir
progresso sem a intervenção da sabedoria.
Entretanto, ela se divide em duas forças altamente
dignas, com duas dinâmicas opostas: o conhecimento exterior e o autoconhecimento.
A sapiência externa nos faz investir à procura de
valores até certo ponto perecíveis, mas necessários ao nosso equilíbrio.
Passamos por perigos inúmeros, sujeitos às investidas do orgulho em sintonia
com o egoísmo e sob o domínio da vaidade.
Entrementes, se vencermos essas condições na
altura em que elas se nos apresentam, sairemos livres, para novos conhecimentos
que, podemos crer, serão a maior verdade, que é o conhecimento de nós mesmos, é
o estudo do universo interno, aprofundando-nos dentro dele como se fora o nosso
próprio mundo. Este conhecimento se chama Sabedoria-Amor.
Há quem diga que o amor não é sabedoria. Está
completamente enganado. Quem ama nas linhas ensinadas por Nosso Senhor Jesus
Cristo é um verdadeiro sábio.
Ao conhecermos as nossas deficiências, abrimos
portas de luz nas esferas da consciência, de sorte a nos enriquecermos, em
todos os rumos, dos valores eternos, de talentos que Deus depositou em nossos
corações, para a garantia de nós mesmos.
As religiões de todo o mundo e a filosofia que
medra em toda a Terra têm a missão sagrada de indicar às criaturas os arcanos
da sabedoria interna, que é a verdadeira senda de iluminação dos espíritos.
Aquele que já conhece a si mesmo dispensa certos
acessórios que pesam muito sobre os ombros e que exigem tempo precioso na sua
conservação.
O sábio interno nasce de novo, é um novo homem que
surge de dentro do homem velho. Todo movimento que se preocupa com as coisas
externas das criaturas pode fazer muito em favor das almas em sofrimento, não
resta dúvida.
Entretanto, quando encontramos quem nos ajuda a
trabalhar dentro de nós, a descobrir os nossos tesouros, esse é o caminho
ensinado por Cristo, que nos liberta definitivamente.
Quem conhece a si mesmo tem mais facilidade em
conhecer as lições externas e as propriedades que lhe sustentam a vida.
A Doutrina dos Espíritos, na sua maravilhosa
profundidade, desfralda a bandeira de luz no topo do mundo em que moramos, por
misericórdia de Deus, com a inscrição já bem conhecida "DEUS, CRISTO E
CARIDADE". Deus está no centro de todos nós, esperando, como Pai, os
nossos apelos nascidos da vontade.
Cristo pega em nossas mãos para nos mostrar os
caminhos abertos pela caridade. O Céu está mais próximo de nós do que pensamos:
reside dentro de nós. Basta abrirmos os olhos e buscá-lo.
E, para tanto, devemos, como médicos de nós
mesmos, executar as cirurgias indispensáveis em todas as áreas das nossas
condutas, dominar os nossos impulsos inferiores e discipliná-los, transformando-os
em instrumentos de trabalho e de paz, para que surja o amor no centro dos sentimentos
e, junto a ele, a tranquilidade imperturbável em todos os caminhos que
deveremos trilhar. Quem conhece a si mesmo, já não tem tempo de criticar
ninguém.
(Lancellin no livro Cirurgia Moral de João Nunes
Maia)