domingo, 30 de junho de 2019

Ano III - Rio das Ostras - Edição Julho 2019


Editorial

O amor

O amor, como comumente se entende na Terra, é um sentimento, um impulso do ser, que o leva para outro ser com um desejo de unir-se a ele. Mas, na realidade, o amor reveste formas infinitas, desde as mais vulgares até as mais sublimes. Princípio da vida universal, proporciona à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras a intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em roda se si; é por ele que ela se sente estreitamente ligada ao Poder Divino, foco ardente de toda a vida, de todo o amor.
O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua no mundo. Por ele atrai para si na matéria; eleva-os e arrasta-os na espiral da ascensão infinita para os esplendores da luz e da liberdade.
O amor conjugal, o amor materno, o amor filial ou fraterno, o amor da pátria, da raça, da humanidade, são refrações, raios refratários do amor divino, que abrange todos os seres, e, difundindo-se neles, faz rebanhar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor.
O amor é mais forte do que o ódio, mais poderoso do que a morte. Se o Cristo foi o maior dos missionários e dos profetas, se tanto império teve sobre os homens, foi porque trazia em si um reflexo mais poderoso do Amor Divino. Jesus passou pouco tempo na Terra; foram bastantes três anos de evangelização para que o seu domínio se entendesse a todas as nações. Não foi pela Ciência nem pela arte oratória que ele seduziu e cativou as multidões, foi pelo amor! [...] Por isso, apesar dos erros e falsas fogueiras acesas, de tantos véus estendidos sobre seu ensino, o Cristianismo continuou a ser a maior das religiões; disciplinou, moldou a alma humana, amansou a índole feroz dos bárbaros, arrancou raças inteiras à sensualidade ou à bestialidade.
Por isso também se explicam e se afirmam a solidariedade e fraternidade universais. Um dia, quando a verdadeira noção do ser se desembaraçar das dúvidas e incertezas que obsidiam o pensamento humano, compreender-se-á a grande fraternidade que liga as almas. Sentir-se-á que são todas envolvidas pelo magnetismo divino, pelo grande sopro de amor que enche os Espaços.
A todas as interrogações do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas blasfêmias, uma voz grande, poderosa e misteriosa responde: Aprenda a amar! O amor é o resumo de tudo, o fim de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar sobre o universo a imensa rede de amor tecida de luz e ouro. Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais refratários.
Quem pois, num dia de verão, quando o sol se irradia, quando a imensa cúpula azulada se desenrola sobre nossas cabeças e dos pratos e bosques, dos montes e do mar sobem a adoração, a prece muda dos seres e das coisas, quem, pois, deixará de sentir as radiações de amor que enchem o infinito?
É preciso nunca ter aberto a alma a estas influências sutis para ignorá-las ou negá-las. Muitas almas terrestres ficam, é verdade, hermeticamente fechadas para as coisas divididas ou, então, se sentem suas harmonias e belezas, escondem cuidadosamente o segredo de si mesmas; parecem ter vergonha de confessar o que conhecem ou o que de maior e melhor experimentam.
Tentai a experiencia! Abri o vosso ser interno, abri as janelas da prisão da alma aos eflúvios da vida universal e, de súbito, essa prisão encher-se-á de claridades, de melodias; um mundo todo de luz penetrará em vós.
Basta ter experimentado uma vez só essas impressões para não as esquecer mais. E quando chega o declínio da vida com suas desilusões, quando as sombras crepusculares se acumulam sobre nós, então estas poderosas sensações acordam com a memória de todas as alegrias sentidas, e a lembrança das horas em que verdadeiramente amamos cai como delicioso orvalho sobre nossas almas dissecadas pelo vento áspero das provações e das dores.
(Do Livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Leon Denis)



Reflexões evangélicas

Buscai, acima de tudo, o reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas ser-vos-ão acrescentadas. (Mateus, 6:33)
         Recuando ao tempo de sua palavra direta, recordemos que a multidão perguntava sobre o comer, o beber e o agasalhar-se... Essas coisas, porém, cresceram com a civilização.
Não apenas pão do corpo, mas pão de espírito em forma de educação e paz. Não apenas beber água, na ordem material, mas sorver o idealismo santificante de que o Mestre mesmo foi o excelso portador. Não apenas agasalhar-se com as vestes que cobrem o corpo denso, mas o abrigar-se cada um de nós na alegria da consciência reta, para que o coração unido ao Cristo respire na inexpugnável cidadela do dever respeitado. A significação dessa trilogia de verbos tão rotineiros no mundo é, hoje, como vemos, mais complexa. Precisamos dessas coisas...
Essas coisas, que também podemos simbolizar como harmonia interior, tranquilidade doméstica, equilíbrio na vida pública e privada, compreensão para com os amigos, tolerância para com os adversários, dignidade nas provações e força para ultrapassar as nossas próprias fraquezas, são necessidades prementes que não podemos olvidar. Mas para que essas coisas sejam acrescentadas à nossa vida, é indispensável procuremos o reino de Deus e sua justiça, que expressam felicidade com merecimento. Façamos o melhor, sentindo, pensando e falando o melhor que pudermos.
Honrando o reino de Deus e sua justiça, o nosso divino Mestre passou na Terra em permanente doação de si mesmo... Eis o padrão que nos deve inspirar as atividades, porque não nos bastará crer acertadamente e ensinar com brilho, mas, acima de tudo, viver as lições.
O reino de Deus inclui todos os bens materiais e morais, capazes de serem incorporados aos nossos espíritos, seja onde for; no entanto, importa merecê-lo por justiça e não apenas desejá-lo pela fé. Amigos, temos agora conosco o programa certo. Atendamo-lo. E que o Senhor nos reúna em valioso entendimento, para a obra de cooperação no Evangelho que nos cabe executar, é tudo aquilo que aspiramos de melhor para que o serviço do bem nos conduza ao grande Bem que nos acena o futuro.
(Instruções psicofônicas de Chico Xavier/ Álvaro Reis (parte))



Um olhar amoroso sobre o mal do outro

O olhar moral enviesado sobre o mundo pode nos afastar da visão de totalidade e da percepção do significado espiritual pleno da vida. Tanto quanto o viés permissivo sobre o mundo, assim como o olhar pesado e pecaminoso que se tenha, contribuem para o atraso moral do planeta. Nem sempre nosso estado de espírito permite-nos a percepção desejada quando observamos as atitudes humanas. [...] Devemos lembrar que o ser humano é individual e coletivo ao mesmo tempo, isto é, ele age por seu livre arbítrio e motivação própria, mas também pelas influências que recebe, sejam de seu meio ambiente ou pelas interferências espirituais. Suas ações não decorrem apenas do momento atual, tampouco apenas de seu passado reencarnatórios. [...] Nesse sentido, o Evangelho utilizado apenas com essa finalidade, isto é, de referendar um enquadramento do que é bem e do que é mal, estaria sendo utilizado com uma finalidade muito aquém de suas possibilidades transformadoras. A claridade de sua essência estaria sendo de alguma forma depreciada. [...]
 Aqueles que se constituem em intérpretes das claridades do Evangelho devem buscar evitar se transformarem em profetas do apocalipse para que não lhe embace a luminosidade que deve conduzir o ser humano à felicidade. As advertências são válidas e preciosas, visto que alertam aos menos avisados quanto às consequências de seus equívocos, porém são igualmente necessárias propostas de aplicabilidade na vida material e em suas rotinas para que não se preguem atitudes exequíveis apenas num mundo imaginário ou que se situe no além. [...]
A profilaxia dos desequilíbrios humanos ou daquilo que o torna infeliz e que gera a ausência de paz, inicia-se na medida que ele desperta para se questionar. Propor medidas comportamentais para resolver aqueles desequilíbrios é como pular ou saltar um degrau importante da escada natural de crescimento espiritual do ser humano. Que se curem os males, mas que se questione a si mesmo. [...]
A personalidade de quem veicula a mensagem do Evangelho sem sombra de dúvidas interfere na forma como esta é veiculada e na interpretação que se lhe dá. Por mais que a pessoa se esforce em apresentar, através do exemplo pessoal, uma visão pura e límpida, a interpretação sempre conterá algo de particular. [...]
 O Cristo propõe que o curador se cure, isto é, que sua fala seja também, e principalmente, dirigida a si mesmo. Seu exemplo pessoal é a verdadeira mensagem que passa, tendo como base o que assimilou da original. A partir do que entendeu da mensagem que lhe inspira a vida, levará aos outros, de uma forma típica, aplicável aparentemente a todos, mas própria para aqueles que têm carma semelhante ao seu.
Numa família seus membros devem buscar aplicar o que pregam e aquilo que acreditam. Quando não se sintam em condições de fazê-lo devem pedir ajuda aos outros membros a fim de que todos compartilhem de problemas que pertencem a todos. Omitir os problemas àqueles que podem ajudar é demonstração de insegurança. Em alguns casos é compreensível que certos problemas possam ser omitidos a fim de não expor terceiros, porém deve-se buscar a participação de todo o grupo na solução e discussão de problemas comuns, inclusive das crianças, para que comecem logo cedo a entender a vida.
A fala do Cristo demonstra segurança e autoconfiança em si mesmo. Ele se expôs diante da Sinagoga sem esconder suas capacidades e disse para que veio. Nós devemos colocar em família o que ali estamos fazendo. Devemos ter equilíbrio e autodeterminação suficientes para assumir nossas responsabilidades em família.
(Do livro Evangelho e Família de Adenáuer Novaes)






sábado, 1 de junho de 2019

Ano III – Rio das Ostras – Edição Junho 2019


Editorial


Brilhar

“Assim resplandece a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus. (Mateus, 5:16)

         Admitem muitos aprendizes que brilhar será adquirir destacada posição em serviços de inteligência, no campo da fé.
         Realmente, excluir a cultura espiritual, em seus diversos ângulos, da posição luminosa a que todos devemos aspirar, seria rematada insensatez.
         Aprender sempre para melhor conhecer e servir é a destinação de quem se consagra fielmente ao Mestre Divino.
         Ninguém se iluda com os fogos-fátuos do intelectualismo artificioso.
         Ensinemos o caminho da redenção, tracemos programas salvadores onde estivermos; brilhe a luz do Evangelho em nossa boca ou em nossa frase escrita, mas permaneçamos convencidos de que se esses clarões não descortinam as nossas boas obras, seremos invariavelmente recebidos no ouvido alheio e no alheio entendimento, entre a expectação e a desconfiança, porque somente em fundido pensamento, verbo e ação, no ensinamento de Jesus Cristo, haverá em torno de nós glorificação construtiva ao Nosso Pai que está nos Céus.
(Mensagem de Emmanuel, no livro Vinha de Luz de Francisco Candido Xavier)




Adoração

O vocábulo adoração significa, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ato ou efeito de adorar, que está intimamente relacionado à palavra veneração, culto que se rende a alguém ou algo considerado divindade. Todavia, afirmam os Espíritos Superiores que adoração consiste na elevação do pensamento a Deus.
Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma. Esclarecem também que a adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem.
Tempos houve em que cada família, cada tribo, cada cidade e cada raça tinha os seus deuses particulares, em cujo louvor o fogo divino ardia constantemente na lareira ou nos altares dos templos que lhes eram dedicados.
Para entendermos a adoração, precisamos reconhecer que esta acompanha o processo evolutivo da criatura humana, uma vez que, como o homem evolui intelectual e moralmente, aperfeiçoa também sua concepção de Deus e a sua forma de adorá-lo.
Devemos considerar, no entanto, que longe ainda nos encontramos de adorar Deus em espírito e verdade, conforme preconiza o Espiritismo, e lembrando a mensagem cristã.
Os Espíritos Orientadores da Codificação Espírita nos esclarecem que adoração verdadeira é do coração. Em todas as vossas ações, lembrai-vos sempre de que o Senhor tem sobre vós o seu olhar. Esclarecem igualmente que a adoração exterior será útil, se não consistir num vão simulacro. É sempre útil dar um bom exemplo. Mas, os que somente por afetação e amor-próprio o fazem, desmentindo com o proceder a aparente piedade, mau exemplo dão e não imaginam o mal que causam.
Na verdade, continuam elucidando os Espíritos Codificadores, Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam. É hipócrita aquele cuja piedade se cifra nos atos exteriores. Mau exemplo dá todo aquele cuja adoração é afetada e contradiz o seu procedimento. Declaro-vos que somente nos lábios e não na alma tem religião aquele que professa adorar o Cristo, mas que é orgulhoso, invejoso e cioso, duro e implacável para com outrem, ou ambicioso dos bens deste mundo. Deus, que tudo vê, dirá: o que conhece a verdade é cem vezes mais culpado do mal que faz, do que o selvagem ignorante. E como tal será tratado no dia da justiça. Se um cego, ao passar, vos derriba, perdoá-lo-eis; se for um homem que enxerga perfeitamente bem, queixar-vos-eis e com razão. Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.
(Pauta de reflexão do livro de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – Tomo I da FEB)




Quando orardes
  
“E, quando estiverdes orando, perdoai.”
Jesus (Marcos, 11:25)
A sincera atitude da alma na prece não obedece aos movimentos mecânicos vulgares. Nas operações da luta comum, a criatura atende, invariavelmente, aos automatismos da experiência material que se modifica de maneira imperceptível, nos círculos do tempo; todavia, quando se volta a alma aos santuários divinos do plano superior, através da oração, põe-se a consciência em contato com o sentido eterno e  criador da vida infinita.
Examine cada aprendiz as sensações que experimenta em se colocando na posição de rogativa ao Alto, compreendendo que se lhe faz indispensável a manutenção da paz interna perante as criaturas e quadros circunstanciais do caminho.
A mente que ora permanece em movimentação na esfera invisível.
As inteligências encarnadas, ainda mesmo quando se não conheçam entre si, na pauta das convenções materiais, comunicam-se através dos tênues fios do desejo manifestado na oração. Em tais instantes, que devemos consagrar exclusivamente à zona mais alta de nossa individualidade, expedimos mensagens, apelos, intenções, projetos e ansiedades que procuram objetivo adequado.
É digno de lástima todo aquele que se utiliza da oportunidade para dilatar a corrente do mal, consciente ou inconscientemente. É por este motivo que Jesus, compreendendo a carência de homens e mulheres isentos de culpa, lançou este expressivo programa de amor, a benefício de cada discípulo do Evangelho: – “E, quando estiverdes orando, perdoai.”
(Mensagem de Emmanuel no livro Pão Nosso de Francisco Cândido Xavier)