sábado, 30 de abril de 2022

Ano VI - Rio das Ostras - Edição Maio 2022

 Editorial

 A Prece

A prece deve ser uma expansão íntima da alma para com Deus, um colóquio solitário, uma meditação sempre útil, muitas vezes fecunda. É, por excelência, o refúgio dos aflitos, dos corações magoados. Nas horas de acabrunhamento, de pesar íntimo e de desespero, quem não achou na prece a calma, o reconforto e o alívio a seus males? Um diálogo misterioso se estabelece entre a alma sofredora e a potência evocada. A alma expõe suas angústias, seus desânimos; implora socorro, apoio, Indulgência. E, então, no santuário da consciência, uma voz secreta responde: é a voz d’Aquele donde dimana toda a força para as lutas deste mundo, todo o bálsamo para as nossas feridas, toda a luz para as nossas incertezas. E essa voz consola, reanima, persuade; traz-nos a coragem, a submissão, a resignação estoica. E, então, erguemo-nos menos tristes, menos atormentados; um raio de sol divino luziu em nossa alma, fez despontar nela a esperança.

[...] A linguagem da prece deve variar segundo as necessidades, segundo o estado do Espírito humano. É um grito, um lamento, uma efusão, um cântico de amor, um manifesto de adoração, ou um exame de seus atos, um Inventário moral que se faz sob a vista de Deus, ou ainda um simples pensamento, uma lembrança, um olhar erguido para o céu.

Seria um erro julgar que tudo podemos obter pela prece, que sua eficácia implique em desviar as provações inerentes à vida. A lei de imutável justiça não se curva aos nossos caprichos. Os males que desejaríamos afastar de nós são, muitas vezes, a condição necessária do nosso progresso. Se fossem suprimidos, o efeito disso seria tornar estéril a nossa vida. De outro modo, como poderia Deus atender a todos os desejos que os homens exprimem nas suas preces? A maior parte destes seria incapaz de discernir o que convém, o que é proveitoso. Alguns pedem a fortuna, ignorando que esta, dando um vasto campo às suas paixões, seria uma desgraça para eles.

[...] A prece do sábio, feita com recolhimento profundo, isolada de toda preocupação egoísta, desperta essa Intuição do dever, esse superior sentimento do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através das dificuldades da existência e o mantêm em comunicação íntima com a grande harmonia universal.

Unamos nossas vozes às do infinito. Tudo ora, tudo celebra a alegria de viver, desde o átomo que se agita na Lua até o astro Imenso que flutua no éter. A adoração dos seres forma um concerto prodigioso que se expande no espaço e sobe a Deus. É a saudação dos filhos ao Pai, é a homenagem prestada pelas criaturas ao Criador. Interrogai a Natureza no esplendor dos dias de sol, na calma das noites estreladas. Escutai as grandes vozes dos oceanos, os murmúrios que se elevam do seio dos desertos e da profundeza dos bosques, os acentos misteriosos que se desprendem da folhagem, repercutem nos desfiladeiros solitários, sobem as planícies, os vales, franqueiam as alturas e espalham-se pelo Universo. Por toda parte, em todos os lugares, concentrando-vos, ouvireis o cântico admirável que a Terra dirige à Grande Alma. Mais solene ainda é a prece dos mundos, o canto suave e profundo que faz vibrar a Imensidade e cuja significação sublime somente os Espíritos elevados podem compreender.

(Leon Denis, no livro Depois da Morte, Item A prece)

 


No Sustento da Paz

 

"Vivei em Paz uns com os outros". -Paulo (I Tessalonicenses, 5:13.)

 

Costumamos referir-nos à guerra, qual se ela fosse um fenômeno de teratologia política, exclusivamente atribuível aos desmandos de ditadores cruéis, quando todos somos intimados pela vida ao sustento da Paz.

Todos agimos uns sobre os outros e, ainda que a nossa influência pessoal se nos figure insignificante, ela não é menos viva na preservação da harmonia geral. A floresta é um espetáculo imponente da natureza, mas não se agigantou sem o concurso de sementes pequeninas.

Nossa deficiência de análise, quanto à contribuição individual no equilíbrio comum, nasce, via de regra, da aflição doentia com que aguardamos ansiosamente os resultados de nossas ações, sequiosos de destaque pessoal no imediatismo da Terra; isso faz com que procedamos, à maneira de alguém que se decidisse a levantar uma casa com total menosprezo pelas pedras, tijolos, parafusos e vigas, aparentemente sem importância, quando isoladamente considerados, mas indispensáveis à construção.

Habituamo-nos, frequentemente, a maldizer o irmão que se fez delinquente, com absoluta descaridade para com a debilitação de caráter a que chegou, depois de longo processo obsessivo que lhe corroeu a resistência moral, quase sempre após fugirmos da providência fraterna ou da simples conversação esclarecedora, capazes de induzi-lo à vitória sobre as tentações que o levaram à falta consumada.

Lideramos reclamações contra o estridor de buzinas na via pública e não nos pejamos das maneiras violentas com que abalamos os nervos de quem nos ouve.

Todos somos chamados à edificação da Paz que, aliás, prescinde de qualquer impulso vinculado às atividades de guerra e que, paradoxalmente, depende de nossa luta por melhorar-nos e educar-nos, de vez que Paz não é inércia e sim esforço, devotamento, trabalho e vigilância incessantes a serviço do bem. Nenhum de nós está dispensado de auxiliar lhe a defesa e a sustentação, porquanto, muitas vezes, a tranquilidade coletiva jaz suspensa de um minuto de tolerância, de um gesto, de uma frase, de um olhar... Não te digas, pois, inabilitado a contribuir na Paz do mundo.

Se não admites o poder e o valor dos recursos chamados menores no engrandecimento da vida, faze um palácio diante de vigorosa central elétrica e procura dotá-lo de luz e força sem a tomada.

(Mensagem de Emmanuel, no livro Palavras de vida eterna de Francisco Cândido Xavier)

 


 

Revolta

 

“192. a) — Pode ao menos o homem na vida presente, preparar com segurança, para si, uma existência futura menos prenhe de amarguras”?

“Sem dúvida. Pode reduzir a extensão e as dificuldades do caminho. Só o descuidoso permanece sempre no mesmo ponto.” O Livro dos Espíritos

 

Indiscutivelmente, defrontas a revolta em toda a Terra, carregando uma máscara de mil faces com que se apresenta, dominadora.

Revolta da pobreza que não se pode adornar de ouro frio nas competições infrenes do luxo...

Revolta da fortuna porque não pode conquistar o mundo, cavalgando as consciências honradas...

Revolta da vaidade que não logra sobrepor-se àdignidade alheia...

Revolta de quem não pode disseminar a perversão moral...

Revolta daqueles que não souberam preservar a saúde...

Revolta de quantos tombaram nos testemunhos àvirtude, resvalando nos lamaçais do vício...

Revolta da ignorância por não envenenar a cultura que lhe desvela a cegueira...

Revolta do mal por não dispor de recursos para instaurar a anarquia no mundo...

Revolta da ambição dos que muito possuem e não estão satisfeitos, fazendo-se, eles mesmos, escravos do que ainda não têm, e revolta da ambição dos que nada têm, atormentando-se, eles próprios, na grilheta da posse que ainda não lhes chegou às mãos, olvidando, todos eles, o aproveitamento dos bens disponíveis para a disseminação da alegria e da felicidade nos corações...

Revolta dos que não têm fé, atirando-se nos cipoais do desespero, longe da disposição de aprimoramento da alma, e revolta dos que receberam o chamado da fé, mas não foram poupados aos necessários resgates das velhas dívidas, comprometendo-se, ainda mais, nos espinheiros da reclamação injusta, em flagrante desrespeito às sábias Leis que regem a vida...

Há, porém, uma revolta mais lamentável: aquela que surge na inconformação do homem esclarecido pela consoladora Doutrina de Cristo e que se embrutece na violência do prazer ultrajante, porque não consegue imprimir aos caprichos soezes um cunho superior, esmagando na posse quantos se negam a compactuar-lhe as fraquezas e indignidades, esquecido de que o caminho da paz é pavimentado de renúncia e humildade, embora a aflição que corrói e gasta.

Liberta-te da revolta de qualquer espécie e busca examinar, através do amor total, os recursos ao teu alcance, desdobrando esforços para a utilização justa do tempo e da dor, convertido em experiência primorosa, em favor da tua integração nas tarefas a que te propões, a benefício de ti mesmo, porque “só o descuidoso permanece sempre no mesmo ponto”.

(Joanna de Ângelis, no livro Espírito e Vida de Divaldo Pereira Franco)

 


 

sábado, 9 de abril de 2022

Ano VI - Rio das Ostras - Edição Abril 2022

 

Editorial

 

Libertemo-nos

O homem, na sua essência, é um espírito imortal, usando a vestimenta transitória na imortalidade – concedidos à criatura para o aprendizado de elevação.

A crosta do Mundo é o campo benemérito, onde cada um de nós realiza a sementeira do próprio destino.

A ciência é o serviço do raciocínio, erguendo a escola do conhecimento.

A filosofia é o sistema de indagação que auxilia a pensar.

A religião, porém, é a bússola brilhante, desde a Terra, o caminho da ascensão.

Todos nós somos herdeiros da Sabedoria Infinita e do Amor Universal.

Entretanto, sem o arado do trabalho, com que possamos adquirir os valores inalienáveis da experiência, prosseguiremos colocados ao seio maternal do Planeta, na condução de lesmas pensantes.

Não repouses à frente do dia rápido.

Abre os olhos à contemplação da verdade que regenera e edifica.

Abre a mente aos ideais superiores que refundem a existência.

Abre os braços ao serviço salutar.

Descerre o verbo à exaltação da e da luz.

Abre as mãos à fraternidade, auxiliando ao próximo.

Abre, sobretudo, o coração ao amor que nos redime, convertendo-nos fielmente em companheiros do amigo Sublime da Criaturas, que partiu do mundo, de braços abertos na cruz, oferecendo-se à Humanidade inteira.

Cada inteligência tocada pela claridade religiosa, nas variadas organizações da fé viva, é uma estrela que ilumina os remanescentes da ignorância e do egoísmo, no caminho terrestre.

Liberta-se e sobre a luz do píncaro, a fim de iluminares a marcha daqueles mais necessitados que tu mesmo, na jornada de aperfeiçoamento e libertação.

(Mensagem de André Luiz no livro Apostilas da Vida de Francisco Cândido Xavier)

 



Como Lázaro

“E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir.” — (JOÃO, capítulo 11, versículo 44.)

O regresso de Lázaro à vida ativa representa grandioso símbolo para todos os trabalhadores da Terra.

Os criminosos arrependidos, os pecadores que se voltam para o bem, os que “trincaram” o cristal da consciência, entendem a maravilhosa característica do verbo recomeçar.

Lázaro não podia ser feliz tão-só por revestir-se novamente da carne perecível, mas, sim, pela possibilidade de reiniciar a experiência humana com valores novos.

E, na faina evolutiva, cada vez que o espírito alcança do Mestre Divino a oportunidade de regressar à Terra, ei-lo desenfaixado dos laços vigorosos... Exonerado da angústia, do remorso, do medo... A sensação do túmulo de impressões em que se encontrava, era venda forte a cobrir-lhe o rosto...

Jesus, compadecido, exclamou para o mundo:

— Desligai-o, deixai-o ir.

Essa passagem evangélica é assinalada de profunda beleza. Preciosa é a existência de um homem, porque o Cristo lhe permitiu o desligamento dos laços criminosos com o pretérito, deixando-o encaminhar-se, de novo, às fontes da vida humana, de maneira a reconstituir e santificar os elos de seu destino espiritual, na dádiva suprema de começar outra vez.

(Mensagem de Emmanuel no livro Caminho, Verdade e vida de Francisco Cândido Xavier)

 


A vontade

A vontade é a maior de todas as potências; é, em sua ação, comparável ao ímã. A vontade de viver, de desenvolver em nós a vida, atrai-nos novos recursos vitais; tal é o segredo da lei de evolução. A vontade pode atuar com intensidade sobre o corpo fluídico, ativar-lhe as vibrações e, dessa forma, apropriá-lo a um modo cada vez mais elevado de sensações, prepará-lo para mais alto grau de existência. [...]

O que importa, acima de tudo, é compreender que podemos realizar tudo no domínio psíquico; nenhuma força permanece estéril quando se exerce de maneira constante, visando alcançar um desígnio conforme ao direito e à justiça.

É o que se dá com a vontade; ela pode agir tanto no sono como na vigília, porque a alma valorosa, que para si mesma estabeleceu um objetivo, procura-o com tenacidade em ambas as fases de sua vida e determina assim uma corrente poderosa, que mina devagar e silenciosamente todos os obstáculos.

Pela vontade criadora dos grandes Espíritos e, acima de tudo, do Espírito divino, uma vida repleta de maravilhas desenvolve-se e se estende, de degrau em degrau, até ao infinito, nas profundezas do céu, vida incomparavelmente superior a todas as maravilhas criadas pela arte humana e tanto mais perfeita quanto mais se aproxima de Deus.

Se o homem conhecesse a extensão dos recursos que nele germinam, talvez ficasse deslumbrado e, em vez de se julgar fraco e temer o futuro, compreenderia a sua força, sentiria que ele próprio pode criar esse futuro.

Cada alma é um foco de vibrações que a vontade põe em movimento. Uma sociedade é um agrupamento de vontades que, quando estão unidas, concentradas num mesmo fito, constituem centro de forças irresistíveis. As humanidades são focos ainda mais poderosos, que vibram através da imensidade.

Pela educação e exercício da vontade, certos povos chegam a resultados que parecem prodígios.

Aprendamos, pois, a criar uma “vontade de potência”, de natureza mais elevada... Fortaleçamos em torno de nós os espíritos e os corações, se não quisermos ver nossas sociedades votadas à decadência irremediável.

(Do livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor de Léon Denis, Cap. XX, Parte III)