Editorial
Recorda a caridade oculta
em que te equilibras, por amor da Providência Divina, e não desdenhes auxiliar
sem repouso para que teus passos não se percam nos labirintos da ingratidão.
Desde o alicerce do templo
da carne em que te refugias, ampara-te o Senhor de mil modos.
Não há preço amoedado para
o colo maternal em que se plasma o corpo, não há retribuição humana com que
possas solver as dívidas do berço e nem existe ouro terrestre capaz de
redimir-te, perante a mão carinhosa que te orientou os passos.
Toda experiência no mundo
não é mais que um dilúvio de graças do Céu, benfazejas e anônimas,
assegurando-te estabilidade e alegria sem pagamento e sem propaganda.
A Terra em que te
apoias...
O aconchego do lar...
Os tesouros da escola...
O ar que alimenta...
O pão que nutre a mesa...
A fonte que te alivia...
O trabalho que te
auxilia...
O amigo que te abençoa...
Não digas, assim, que o infortúnio
de teu irmão é incomodo aos teus dias, porque teus dias, em si mesmos, não são
mais que o Socorro Divino, em forma de ensejo santo.
Aprende a auxiliar a todo
momento para que não desmereças do auxílio em que te fazes devedor em todo
instante da vida.
Lembra-te de que todos os
valores reais da senda não possuem preço na Terra e dispõe-te a estender, sem alarde,
os recursos que o teu serviço possa criar em favor dos outros.
Sobretudo, não cobres o
imposto do reconhecimento a quem conduzas a migalhas de teu consolo, entendendo
que o Erário Divino nunca te reclamou pela assistência contínua com que te assegura
a benção da própria marcha.
Não olvides, assim, que o Universo
é o eterno “doar-se de Nosso Pai” e, que cerceando a corrente divina do amor
sem seu fluxo infatigável, a pretexto de atender nossos inferiores caprichos,
nada mais fazemos que impor ao organismo excelso da vida a cristalização de
nossa própria sombra, fugindo à glória da luz e decretando para nós mesmos longos
períodos de reajuste no vale tenebroso da purgação e da morte.
(Mensagem de Emmanuel no livro Abençoa Sempre de
Francisco Cândido Xavier)
Obediência e resignação
A doutrina de Jesus
ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes
companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as
confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o
consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças
ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata
deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso
e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes
que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade
romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da
Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifico e da renúncia carnal.
Cada época é marcada, assim,
com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da
vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo,
apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só,
horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto que a atividade é a
reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que
prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos
dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra
da vossa geração. Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu
entendimento! Ai dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em
marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio
da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou
tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois
prestarão dócil ouvido aos ensinos. - Lázaro. (Paris, 1863.)
(Item 8 – Cap. IX do Evangelho Segundo o
espiritismo de Allan Kardec)
Amor e Perdão
Verdadeiramente amar é
nunca ter que perdoar, pois quem ama não se sente agredido por qualquer atitude
do outro. O amor, dessa forma, perdoa sempre, compreendendo o nível de evolução
do outro.
As agressões que
porventura recebamos daqueles a quem mais dedicamos amor e que nos ferem a
alma, são oportunidades de testar o nosso sentimento, conhecendo-lhe a
natureza. Perdoar não é esquecer por esquecer.
É compreender e colocar-se
no lugar do outro. O amor para existir, diante da agressão a nós por parte de
alguém que amamos, deve, antes de tudo, compreender, isto é, colocar-se também
como alguém que poderia, nas mesmas circunstâncias, cometer o mesmo equívoco.
Ser perdoado, diante de
nossas faltas para com o próximo, sem que ele nada exija, é oportunidade de
aprender com o outro, como amar e viver em paz consigo mesmo. [...]
Às vezes, por gostar de
alguém de forma exagerada, perdoamos suas atitudes inadequadas para conosco e
com outros, confundindo os sentimentos e desculpando quando cabia a repreensão
necessária. Perdão não significa conivência com o mal. Atitudes como essas,
isto é, perdoar e desculpar sem limites, incita o outro à prática do mesmo ato
reprovável. Isto não é amor, mas, submissão.
O exercício do perdão
leva-nos à compreensão da qualidade do sentimento que temos para com alguém.
Quem perdoa está a um passo do amor ao outro. Sua constância levará o indivíduo
ao caminho da compreensão dos atos humanos e das relações interpessoais. [...]
O amor nos coloca entre
aqueles aos quais cabe perdoar. O componente da família que conosco se
relaciona e com o qual não temos afinidade ou mesmo que sentimos certa aversão,
é sempre alguém a quem temos que perdoar e amar em nosso próprio benefício. Sua
presença em nossa vida é oportunidade de aprendizagem do amor e do perdão. [...]
A compreensão dos atos
humanos requer percepção de nós mesmos. Nada nem ninguém age fora dos limites
de Deus. Ele é amor para sempre. Perdoar setenta vezes sete vezes cada tipo de
falta cometida é exercício para a instalação do amor em definitivo em nós.
Necessitar do perdão
divino para nossas faltas é assumir antecipadamente a culpa. O perdão esperado
é alcançado com o trabalho redentor em favor de si mesmo e da vida, amando
sempre e construindo um mundo melhor.
(Do livro Amor Sempre de Adenáuer Novaes)