quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Ano III - Rio das Ostras - Edição Novembro 2019


Editorial

Amanhã  

“Digo-­vos que não sabeis o que acontecerá amanhã.”   (Tiago, 4:14.) 

Diz o preguiçoso: “Amanhã farei”.
Exclama o fraco: “amanhã, terei forças”.
Assevera o delinquente: “amanhã regenero-me”.
É imperioso reconhecer, porém, que a criatura, adiando o esforço pessoal, não alcançou, ainda, em verdade, a noção real do tempo.
Quem não aproveita a benção do dia, vive distante da glória do século.
Alma sem coragem de avançar cem passos, não caminhará vinte mil.
O lavrador que perde a hora de semear, não consegue prever as consequências da procrastinação do serviço a que se devota, porque, entre uma hora e outra, podem surgir impedimentos e lutas de indefinível duração.
Muita gente aguarda a morte para entrar numa boa vida, contudo, a lei é clara quanto à destinação de cada um de nós.
Alcançaremos sempre os resultados a que nos propomos.
Se todas as aves possuem asas, nem todas se ajustam à mesma tarefa, nem planam no mesmo nível.
A andorinha voa na direção do clima primaveril, mas o corvo, de modo geral, se consagra, em qualquer tempo, aos detritos do chão.
Aquilo que o homem procura agora, surpreenderá amanhã, à frente dos olhos e em torno do coração.
Cuida, pois, de fazer, sem delonga, quanto deve ser feito a benefício de tua própria felicidade, porque o Amanhã será muito agradável e benéfico somente para aquele que trabalha no bem, valorosamente, nas abençoadas horas de Hoje.
(Mensagem de Emmanuel, do livro Fonte Viva de Francisco Cândido Xavier)







Os bons espíritas

Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é, que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam. Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações.
A clareza e da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo. Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encamado.
Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que a moral, que se lhes afigura banal e monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos do Criador.
Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará mais fácil o segundo, noutra existência. Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral.
O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade.
(Texto do ítem 4, cap. XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo)




Tua Benção

Não te queixes de cansaço na tarefa que Deus te confiou: um filho a orientar, um lar a manter, o bem a construir ou algum princípio nobre a defender.    
Recorda aqueles companheiros do mundo que suspiram por ligeira parcela das possibilidades que te enriquecem a vida: os que anseiam por movimentos livres e jazem parafusados no catre; os que desejariam comunicar aos semelhantes os mais belos sentimentos que lhes povoam a alma e sofrem a provação da mudez; os enfermos e desmemoriados que se atormentam na sede de um lar e sofrem a provação e vagueiam sem rumo, atirados à noite, mendigando assistência; e os outros muitos que aspirariam a socorrer aos irmãos em Humanidade, expondo as idéias de paz e reconforto, cultura e beleza que lhes brilham no espírito e permanecem trancados na obsessão ou que caminham dissipando os próprios recursos nas substâncias tóxicas que ainda não conseguiram erradicar das próprias vidas.
Teu trabalho – tua bênção.   
Seja lavrando o campo ou amoldando o metal suportando com paciência algum calvário doméstico ou sofrendo as vicissitudes das causas públicas, não digas que te encontras em sacrifício por agradar a teus pais ou a fim de acompanhar determinado amigo, de modo a prestigiar um parente amado ou em benefício desse ou daquele irmão.   
Se guardas o privilégio de servir, amparando aos outros, estás edificando a felicidade em favor de ti mesmo.    Lembra-te de que todos nos achamos interligados nas criações da Divina Sabedoria.   
Embora transformado e redistribuído por muitas mãos, à maneira da força elétrica que procede da usina, o trabalho que se te confia vem positivamente da Bondade de Deus.
(Mensagem de Meimei, do Livro Somente Amor de Francisco Cândido Xavier)


terça-feira, 1 de outubro de 2019

Ano III - Rio das Ostras - Edição Outubro 2019


Editorial

Ante o divino semeador

“Ouvi: eis que saiu o semeador a semear...” – Jesus (Marcos 4:3)

Jesus é o semeador da terra e a humanidade é a lavoura de Deus em Suas Mãos. Lembremo-nos da renúncia exigida à semente chamada à produção que se destina ao celeiro para que não venhamos a sucumbir em nossas próprias tarefas.
Atirada ao ninho escuro da gleba em que lhe cabe desabrochar, sofre extremo abandono, sufocada ao peso do chão que lhe esmaga o envoltório. Sozinha e oprimida, desenfaixa-se das forças inferiores que a constringem a fim de que os seus princípios germinativos consigam receber a bênção do céu.
Contudo, mal se desenvolve, habitualmente padece o assalto de vermes que lhe maculam o seio, quando não experimenta a avalancha de lama, por força dos temporais.
Ainda assim, obscura e modesta, a planta nascida crê institivamente na sabedoria da natureza que lhe plasmou a existência e cresce para o brilho solar, vestindo-se de frondes tenras e florindo em melodias de perfume e beleza para frutificar, mais tarde, nos recursos que sustentam a vida.
À frente do semeador sublime, não esmoreças ante os pesares da incompreensão e do isolamento, das tentações e das provas aflitivas e rudes.
Crê no Poder Divino que te criou para a imortalidade e, no silêncio do trabalho incessante no bem a que foste trazido, ergue-te para a Luz Soberana, na certeza de que, através da integração com o amor que nos rege os destinos, chegarás, sob a generosa proteção do Celeste Pomicultor, à frutificação da verdadeira felicidade.
(Mensagem de Emmanuel, do livro Antologia Mediúnica do Natal de Francisco Cândido Xavier)





Maneira de orar

O dever primordial de toda criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar! Que importam ao Senhor as frases que maquinalmente articulais umas às outras, fazendo disso um hábito, um dever que cumpris e que vos pesa como qualquer dever?
A prece do cristão, do espírita, seja qual for o seu culto, deve ele dizê-la logo que o Espírito haja retomado o jugo da carne; deve elevar-se aos pés da Majestade Divina com humildade, com profundeza, num ímpeto de reconhecimento por todos os benefícios recebidos até àquele dia; pela noite transcorrida e durante a qual lhe foi permitido, ainda que sem consciência disso, ir ter com os seus amigos, com os seus guias, para haurir, no contacto com eles, mais força e perseverança. Deve ela subir humilde aos pés do Senhor, para lhe recomendar a vossa fraqueza, para lhe suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Deve ser profunda, porquanto é a vossa alma que tem de elevar-se para o Criador, de transfigurar-se, como Jesus no Tabor, a fim de lá chegar nívea e radiosa de esperança e de amor.
A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: "Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende." Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com frequência exclamado: "Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças." Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.
Deveis orar incessantemente, sem que, para isso, se faça mister vos recolhais ao vosso oratório, ou vos lanceis de joelhos nas praças públicas. A prece do dia é o cumprimento dos vossos deveres, sem exceção de nenhum, qualquer que seja a natureza deles. Não é ato de amor a Deus assistirdes os vossos irmãos numa necessidade, moral ou física? Não é ato de reconhecimento o elevardes a ele o vosso pensamento, quando uma felicidade vos advém, quando evitais um acidente, quando mesmo uma simples contrariedade apenas vos roça a alma, desde que vos não esqueçais de exclamar: Sede bendito, meu Pai?! Não é ato de contrição o vos humilhardes diante do supremo Juiz, quando sentis que falistes, ainda que somente por um pensamento fugaz, para lhe dizerdes: Perdoai-me, meu Deus, pois pequei (por orgulho, por egoísmo, ou por falta de caridade); dai-me forças para não falir de novo e coragem para a reparação da minha falta?! Isso independe das preces regulares da manhã e da noite e dos dias consagrados.
Como o vedes, a prece pode ser de todos os instantes, sem nenhuma interrupção acarretar aos vossos trabalhos. Dita assim, ela, ao contrário, os santifica. Tende como certo que um só desses pensamentos, se partir do coração, é mais ouvido pelo vosso Pai celestial do que as longas orações ditas por hábito, muitas vezes sem causa determinante e às quais apenas maquinalmente vos chama a hora convencional.
(Texto do Ítem 22, Cap. XXVIII do Evangelho Segundo o Espíritismo)







Página aos Pais

          Por maiores sejam os compromissos que te prendam a obrigações dilatadas, na esfera dos negócios ou na vida social, consagrarás à família as atenções necessárias.
          Lembrar-te-ás de que o lar é tão somente o refúgio que o arquiteto te planeou, baseando estudos e cálculos nos recursos do solo.
          Encontrarás nele o templo de corações em que as Leis de Deus te situam transitoriamente o Espírito, a fim de que aprendas as ciências da alma no intervalo doméstico.
          “Honrarás teu pai e tua mãe...” proclama a Escritura e daí se subentende que precisamos também dignificar nossos filhos.
          Ainda mesmo se eles, depois de adultos, não nos puderem compreender, nada impede venhamos a entendê-los e auxiliá-los, tanto quanto nos seja possível, sem que por isso necessitemos coarctar os planos superiores de serviço que nos alimentou o coração.
          Reconhecendo o débito irresgatável para com teus pais, os benfeitores que te entreteceram no mundo a felicidade do berço, darás aos teus filhos, com a luz do exemplo no dever cumprido, a devida oportunidade para a troca de impressões e de experiências.
          Se ainda não consegues ofertar-lhes o culto do Evangelho em casa, asserenando-lhes as perguntas e ansiedades, com os ensinamentos do Cristo, não te esqueças do encontro sistemático em família, pelo menos semanalmente, a fim de atender-lhes as necessidades da alma.
          Detém-te a registrar-lhes as indagações infanto-juvenis, louva-lhes os projetos edificantes e estimula-lhes o ânimo à prática do bem.
          Não abandones teus filhos à onda perigosa das paixões insofreadas, sob o pretexto de garantir-lhes personalidade e emancipação.
          Ajuda-os e habilita-os espiritualmente para a vida de hoje e de amanhã.
          Sobretudo, não adies o momento de falar-lhes e ouvi-los, pois a hora da tormenta de provações na viagem da Terra, se abate, mais dia menos dia, sobre a fonte de cada um, por teste de resistência moral, na obra de melhoria, resgate e aprimoramento que nos achamos empenhados.
          Persevera no aviso e na instrução, no carinho e na advertência, enquanto o ensejo te favorece, porquanto muito dificilmente conseguimos escutar-nos  uns aos outros por ocasião de tumulto ou tempestade, e ainda porque ensinar equilíbrio, quando o desequilíbrio já se instalou, significa, na maioria das vezes, trabalho fora de tempo ou auxílio tarde demais.
 (Mensagem de Emmanuel, do Livro Família de Francisco Cândido Xavier)