quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Ano V – Rio das Ostras – Edição Dezembro 2021

Editorial

 


Prece do pão

Cap. XIII – Item 7

Senhor!

Entre aqueles que te pedem proteção, estou eu também, servo humilde a quem mandaste extinguir o flagelo da fome.

Partilhando o movimento daqueles que te servem, fiz hoje igualmente o meu giro.

Vi-me frequentemente detido, em lares faustosos, cooperando nas alegrias da mesa farta, mas vi pobres mulheres que me estendiam, debalde, as mãos!...

Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como se estivessem fitando um tesouro perdido.

Encontrei homens tristes, transpirando suor, que me contemplavam agoniados, rogando em silêncio para que lhes socorresse os filhinhos largados ao extremo infortúnio...

Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio, mas de mim, para que pudessem atender ao estômago torturado!...

Vi a penúria cansada de pranto e reparei, em muitos corações desvalidos, mudo desespero por minha causa.

Entretanto, Senhor, quase sempre estou encarcerado por aquelas mesmas criaturas que te dizem honrar.

Falam em teu nome, confortadas e distraídas na moldura do supérfluo, esquecendo que caminhaste no mundo, sem reter uma pedra em que repousar a cabeça.

Elogiam-te a bondade e exaltam-te a glória, sem perceberem junto delas, seus próprios irmãos fatigados e desnutridos.

E, muitas vezes, depois de formosas dissertações em torno de teus ensinos, aprisionam-me em gavetas e armários, quando não me trancam sob a tela colorida de vitrines custosas ou no recinto escuro dos armazéns.

Ensina-lhes, Senhor, nas lições da caridade, a dividir-me por amor, para que eu não seja motivo à delinquência.

E, se possível, multiplica-me, por misericórdia, outra vez, a fim de que eu possa aliviar todos os famintos da Terra, porque um dia, Senhor, quando ensinavas o homem a orar, incluíste-me entre as necessidades mais justas da vida, suplicando também a Deus:

– “O pão nosso de cada dia dai-nos hoje.”

(Mensagem de Meimei, no livro O Espírito de Verdade de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira)

 





Serve e Confia

 

 “784. Bastante grande é a perversidade do homem. Não parece que, pelo menos do ponto de vista moral, ele, em vez de avançar, caminha aos recuos? “Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos. Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas: O LIVRO DOS ESPÍRITOS

 

Alma que sofre, olha a terra encharcada e ferida, coberta de árvores quebradas e banhada pelas águas dos rios transbordantes!

Aqui e ali a destruição e o lamaçal assinalam a passagem terrível da tormenta desenfreada.

Contempla o jardim despedaçado pelo granizo e o vento, deixando flores mortas no chão e raízes acima do solo.

Fita as águas lodosas dos rios cheios conduzindo destroços e morte...

A devastação passou abraçada à ruína e a vida periclita em derredor. No entanto, no dia seguinte, brilha o sol generoso.

Osculando tudo, indistintamente, leva a toda a parte a bênção da esperança e do refazimento. Confiante, o homem resolve cooperar com a mensagem de mais alto.

Abre valas, desvia os cursos d’água, revolve a terra, retifica a vegetação destroçada e semeia na gleba úmida.

O tempo se encarrega de devolver a esse homem resoluto a beleza da paisagem, a bênção do grão e o doce aroma das flores espalhado no ar...

E o sol compassivo segue adiante. Vai mais além, alma em sofrimento, e fita a terra ressequida, o chão ferido pelas setas douradas do sol, os rios em pó, nem água nem lama, a vegetação crestada e a vida a morrer...

A seca impiedosa tudo destruiu. Todavia, subitamente, carreadas por ventos bons, nuvens andantes entornam suas ânforas cheias, cobrindo de umidade e vida a terra torturada.

O homem, animado pelo auxílio inesperado, corre ao chão e o afaga com os instrumentos de amanho, sendo felicitado, depois, com o verde dos campos e o ouro das espigas, contemplando as fontes cantantes a sombra do arvoredo...

E o sol compassivo segue adiante.

Enxuga, então, tuas lágrimas de agora. Se a tormenta hoje te inunda o coração, desfazendo o jardim dos teus sonhos ou alagando com as lágrimas da inquietação o teu pomar de fantasias, aguarda o Sol generoso, doador de bênçãos, serve e confia, semeando a esperança no próprio coração. Se a ingratidão queimou o frescor da tua alegria e a injustiça secou o teu rio de confiança na vida, serve ainda mais e mais confia nas abençoadas nuvens portadoras da abundância da felicidade.

Quando chegarem, renovarão teus celeiros com os sadios grãos da serenidade e da paz.

Cala todas as dores para que a cortina líquida do pranto não obnubile a visão azul dos céus que te mandarão o socorro em mensagens de luminoso alento.

Hoje significa o teu momento de semear, sejam quais forem as condições. Deixa ao futuro aquilo que o presente ainda não pode resolver e, sem desfalecimento, serve e confia, observando que “o homem se adianta, pois que melhor compreende o que é mal, e vai dia a dia reprimindo os abusos”, inspirado, esse homem em crescimento, que te observa a conduta espírita e cristã, nos teus salutares exemplos de fé e serviço.

(Reflexões de Joanna De Ângelis, no Livro Espírito e Vida de Divaldo Pereira Franco)

 




 Como Perdoar

Na maioria dos casos, o impositivo do perdão surge entre nós e os companheiros de nossa intimidade, quando o suco adocicado da confiança se nos azeda no coração.

Isso acontece porque, geralmente, as mágoas mais profundas repontam entre os Espíritos vinculados uns aos outros na esteira da convivência.

Quando nossas relações adoeçam, no intercâmbio com determinados amigos que, segundo a nossa opinião pessoal, se transfiguram em nossos opositores, perguntemo-nos com sinceridade: “como perdoar, se perdoar não se resume à questão de lábios e sim a problema que afeta os mais íntimos mecanismos do sentimento?”.

Feito isso, demo-nos pressa em reconhecer que as criaturas em desacerto pertencem a Deus e não a nós; que também temos erros a corrigir e reajustes em andamento; que não é justo retê-las em nossos pontos de vista, quando estão, qual nos acontece, sob os desígnios da Divina Sabedoria que mais convém a cada um, nas trilhas do burilamento e do progresso.

Em seguida, recordemos as bênçãos de que semelhantes criaturas nos terão enriquecido no passado e conservemo-las em nosso culto de gratidão, conforme a vida nos preceitua.

Lembremo-nos também de que Deus já lhes terá concedido novas oportunidades de ação e elevação em outros setores de serviço e que será desarrazoado de nossa parte manter processos de queixa contra elas, no tribunal da vida, quando o próprio Deus não lhes sonega Amor e Confiança.

Quando te entregares realmente a Deus, a Deus entregando os teus adversários como autênticos irmãos teus, tão necessitados do Amparo Divino quanto nós mesmos, penetrarás a verdadeira significação das palavras de Cristo: “Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores”, reconciliando-te com a vida e com a tua própria alma. Então, saberás oscular de novo a face de quem te ofendeu, e quem te ofendeu encontrará Deus contigo e te dirá com a mais pura alegria no coração:

“bendito sejas...”.

(Mensagem de Emmanuel, no Livro Alma e Coração de Francisco Cândido Xavier)